Globalização e os riscos da dependência internacional para negócios do campo
O recente episódio do bloqueio acidental do Canal de Suez, que paralisou o tráfego marítimo de cargas importantes para todo o planeta, acendeu alertas sobre os riscos de um comércio global cada vez mais conectado e interdependente. Entenda o que isso significa para o agronegócio.
Num daqueles episódios que, de tão improváveis, beiram o impossível, um enorme navio cargueiro transportando milhares de contêineres e milhões de dólares em mercadorias, de carros e barris de petróleo, encalhou no Canal de Suez.
A embarcação Ever Given, um dos maiores navios porta-contêineres do mundo, permaneceu encalhada por dias, impedido a passagem de quase US$ 10 bilhões em mercadorias transportadas por outros navios que aguardavam, em fila, pela liberação do importante canal que, mais do que nunca, se mostrou crucial para o comércio global.
O caos e a apreensão gerados pelo incidente trouxeram à tona debates antigos entre especialistas em globalização e cadeia de suprimentos: estariam as sociedades globalizadas em risco diante de tanta conexão e interdependência? Como problemas semelhantes podem causar um colapso econômico de dimensões internacionais e de que maneira é possível evitá-los?
Essas e outras questões vêm sendo tema de discussões interessantes, inclusive para o agronegócio. Na medida em que o setor se moderniza, adota novas práticas e rompe fronteiras, novos riscos surgem e merecem atenção.
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A relação entre agilidade e fragilidade comercial em tempos de crise
O modelo de produção just-in-time é velho conhecido de profissionais em diferentes setores. Basicamente, o termo que se traduz como “na hora certa”, propõe uma filosofia de trabalho baseada no objetivo de produzir o produto certo, na hora certa, de acordo com a demanda do mercado. Portanto, uma de suas vantagens mais famosas é a eliminação de estoques desnecessários e, consequentemente, a redução de custos para as empresas.
Porém, a agilidade proporcionada por esse estilo de gerenciamento de produção em escala global vem acompanhada de grande fragilidade, como revela o episódio recente no Canal de Suez. O pleno funcionamento da economia global não abre margem para grandes imprevistos, de modo que problemas de proporções sem precedentes podem balançar as estruturas dos mercados, fazer bolsas de valores despencarem e criar impactos que reverberam por muito tempo.
Estratégia, gestão e a importância do plano B
No agronegócio, é cada dia mais comum ver empresas brasileiras iniciando e consolidando processos de internacionalização. Exportar é uma alternativa muito atraente, sobretudo em um período de valorização das principais moedas estrangeiras em relação ao Real. Porém, é fundamental investir em gestão de negócio, estratégia e sustentabilidade, tanto quanto se investe em tecnologia.
Talvez, a principal lição deixada pelo cargueiro encalhado e pela pandemia de Covid-19 seja a importância de possuir um plano B. Se possível, planos C, D e por aí vai também são bem-vindos. Dificilmente as empresas podem fazer algo a respeito dos fatores externos que influenciam sua operação, além de monitorar e interpretar todas as informações disponíveis.
Porém, no âmbito interno, é possível e necessário desenvolver planos de contingência, capacitar as equipes, prever possíveis problemas e estar pronta para agir para resolvê-los ou atenuá-los com rapidez. Em outras palavras, produtores rurais devem estar atentos aos mercados internacionais da mesma maneira como fazem com o clima local. Na era da informação, nada é tão valioso quanto conhecimento.
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